O escândalo contábil da Americanas fez com que as debêntures da companhia protagonizassem algumas manchetes do noticiário financeiro. Com a recuperação judicial, os títulos tiveram o vencimento antecipado, o que, na prática, significa que não há previsão de quando (e se) os credores receberão os seus recursos de volta. Tudo isso tem despertado dúvidas sobre como escolher debêntures de forma mais segura.
Em um primeiro instante, o que aconteceu com a Americanas acabou dando uma visibilidade negativa às debêntures, por causa da aversão ao risco. Porém, o problema não é a modalidade do investimento, mas sim o caso em si, cercado por falta de transparência na gestão e nas demonstrações financeiras. Além disso a suspeita da fraude de insider trading, que pode ter ocorrido ainda em 2022, contribuiu para a aversão ao risco, e isso nada tem a ver especificamente com as debêntures.
Neste conteúdo, falaremos sobre como funcionam esses títulos de renda fixa, e quais os principais fatores nos quais o investidor precisa prestar atenção na hora de escolhê-los. Portanto, se você investe em debêntures e está preocupado com a segurança do seu patrimônio, ou se ainda não investe e procura por novas formas de diversificação, continue a leitura a seguir.
Afinal, como escolher debêntures?
Para relembrar: as debêntures são títulos de renda fixa que fazem parte da categoria de crédito privado e que são emitidos por empresas para captação de recursos. Quem adquire uma debênture se torna credor da companhia, e recebe o seu dinheiro de volta acrescido de juros no prazo determinado pelo papel. Nesse sentido, as debêntures se diferem das ações, que tornam o investidor um acionista e não um credor da empresa.
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Veja agora três aspectos importantes a considerar na hora de escolher uma debênture para investir: rating de crédito, garantias e prazo do investimento.
Rating de crédito
Diferentemente de outros títulos de renda fixa, as debêntures não contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Isso significa que, se a empresa emissora falir, não há nenhum tipo de ressarcimento e perde-se todo o dinheiro investido.
Por isso, esses títulos possuem um rating de crédito, ou seja, uma nota concedida por uma agência de classificação de risco. Para fazer essa avaliação, as agências consideram aspectos como saúde financeira, potencial de geração de resultados e garantias oferecidas pela emissora (veremos esse conceito a seguir). Isso permite ao investidor ter uma ideia do quão exposto o seu patrimônio estará com o papel da empresa.
De acordo com cada agência classificadora, as notas podem apresentar algumas variações. Nesse sentido, a mais alta inicia em “AAA” e vai descendo até o último grau, que pode ser “C” ou “D”. Quanto mais próxima de AAA, maior é a confiança da agência de que a debênture será paga ao investidor. Por outro lado, quanto mais se aproximar das últimas letras, maior será a chance de inadimplência por parte da emissora. Nesse caso, mais alta deverá ser a remuneração que o título precisa oferecer para que valha a pena assumir o risco.
Garantias
Ainda em relação ao risco de crédito, outro ponto a observar na hora de escolher debêntures é a sua estrutura de garantias. Pelo fato de não contarem com a garantia do FGC, algumas oferecem garantias adicionais, e são classificadas da seguinte forma sob esse aspecto:
- – Garantia real: esse é o tipo de debênture é a que oferece mais segurança ao investidor em termos de garantias. Isso porque ela conta com hipoteca ou penhor de bens da empresa emissora ou de terceiros, que não podem ser negociados ou alienados durante o prazo do título.
- – Garantia flutuante: quem possui esse tipo de debênture tem prioridade de recebimento em relação a outros credores no caso de falência da empresa. Porém, os bens não ficam vinculados à emissão dos títulos. Por isso, a companhia pode negociá-los, o que torna essa garantia mais fraca em relação à anterior.
- – Garantia quirografária: nesse caso, o investidor não tem prioridade em relação a outros credores. Isso significa que, no caso de falência, ele irá concorrer com todos os que têm créditos a receber da empresa. Nesse tipo de debênture, a emissão respeita o limite do capital integralizado.
- Garantia subordinada: por fim, na garantia subordinada, a preferência do investidor é somente sobre os acionistas no caso de liquidação da empresa. No entanto, esse tipo de debênture não prevê limite de emissão, o que a torna frágil em termos de garantia.
Análise da empresa e diversificação são fundamentais!
Independentemente do rating ou de garantias adicionais, para saber como escolher debêntures o investidor precisa entender que elas sempre oferecerão mais risco do que títulos públicos ou garantidos pelo FGC. E isso vale também para outros créditos privados, como CRIs, CRAs ou FDICs, por exemplo. Por isso, especialistas aconselham que se faça uma boa análise fundamentalista da empresa e se busque informações sobre o que ela deseja fazer com o dinheiro captado via debêntures. Além disso, é sempre importante manter a diversificação de emissores, o que também ajuda a diminuir o risco e aumentar as chances de rentabilidade da carteira.
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Prazo
Como vimos, esses títulos têm prazo definido e que costuma ser longo. Nesse sentido, estamos falando de um mínimo de dois anos, podendo ir a dez anos ou mais no caso de debêntures incentivadas, por exemplo. Isso porque elas financiam grandes obras de infraestrutura, que normalmente precisam de vários anos para serem concluídas.
Logo, se o investidor não tem certeza de que não precisará dos recursos no médio ou curto prazo, não é interessante que adquira debêntures. Não que seja impossível resgatá-las antes do vencimento, mas para fazer isso será preciso recorrer ao mercado secundário de renda fixa. Porém, esse ambiente negocia os títulos a “preço de mercado”, determinados de acordo com os interesses de outros investidores. Em outras palavras, as debêntures podem estar valendo mais ou menos do que o investidor pagou para adquiri-las. Isso pode vir a sacrificar a rentabilidade da carteira se o título estiver em baixa na hora da negociação.
Nova marcação a mercado: como isso afeta as debêntures?
Desde o início de 2023, a marcação a mercado – que existe em alguns títulos do Tesouro Direto e fundos de investimento – passou a valer também para as debêntures e outros títulos de crédito privado.
Na prática, o que muda é somente a forma de apresentação das taxas, que o investidor poderá acompanhar todos os meses no seu extrato. Ou seja, a nova marcação a mercado só demonstrará de forma mais clara os valores dos títulos à medida que o tempo passa. Para quem não resgatar antecipadamente os investimentos sujeitos a ela, nada muda em termos de rentabilidade.
Clique abaixo e saiba mais sobre as novas regras vigentes em 2023 para os títulos de renda fixa: