Ao lado de Azul e Latam, a Gol (GOLL4) é uma das maiores companhias aéreas brasileiras. Segundo dados da Agência Nacional de Aviação (ANAC), a empresa, que possui atualmente 142 aeronaves, detém 33,6% de participação no mercado doméstico brasileiro, logo atrás da Latam, que lidera com 35,1%.
Embora já mostre recuperação, o setor aéreo ainda está longe do desempenho pré-pandemia. Nesse sentido, o grande desafio das companhias tem sido inovar para minimizar os estragos causados pela redução e suspensão das operações no último um ano e meio.
No caso da Gol, a sua situação financeira delicada foi decisiva para a união com a Avianca no primeiro semestre de 2022. Anos antes, a companhia já havia fechado parceria com a American Airlines, outra grande player do setor, o que não foi suficiente para desafogar os seus resultados.
Neste conteúdo, você saberá mais sobre a Gol – seu histórico, perspectivas para o setor e análise dos números do terceiro trimestre de 2022 pelos especialistas da Terra Investimentos. Continue a leitura e conheça melhor mais essa gigante da bolsa brasileira.
- Ações: guia completo para começar a investir no mercado financeiro
- Carteiras recomendadas: o que são e quais as suas vantagens?
Quem é a Gol (GOLL4)?
Primeira companhia aérea brasileira a adotar o conceito de baixo custo, a Gol (GOLL4) iniciou suas atividades comerciais em janeiro de 2001, sendo que, em março do mesmo ano, já começou a operar na ponte aérea Rio-São Paulo, a rota mais concorrida do país.
Em 2004, ano do seu IPO (abertura de capital), a empresa iniciou seus voos internacionais, primeiramente entre São Paulo e Buenos Aires, logo após expandindo para a Bolívia. Em 2005, depois de inaugurar uma base em Boa Vista (Roraima), tornou-se a única companhia aérea brasileira a ter operações em todas as capitais brasileiras. Além disso, o seu serviço de cargas (Gollog) começou a operar em Buenos Aires, sua primeira base internacional.
Entre 2006 e 2007, a Gol implementou outras duas rotas diárias internacionais: para Santiago, no Chile, e Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. 2007 também marca outro importante acontecimento: a aquisição da Varig, o que fez a companhia se transformar em um dos principais grupos de aviação da América Latina.
Nesse mesmo período, a empresa estabeleceu uma parceria com a Delta Air Lines – uma das mais importantes companhias aéreas dos EUA. Logo, a partir do acordo para a venda de passagens com a Delta, foi possível permitir conexões mais rápidas entre as duas empresas.
Em 2009, a Gol fecha acordo comercial com a American Airlines e Air France/KLM. Dessa forma, começou a realizar voos compartilhados (codeshare), oferecendo benefícios em programas de milhagens. Nesse ano também foi lançado o cartão internacional Smiles, que dava vantagens em milhas para os seus clientes.
Em 2011, a companhia fecha mais um acordo de codeshare, agora com a Qatar Airways – empresa aérea nacional do Qatar.
- Temporada de balanços: 9 expressões que você precisa conhecer
- Dividendos de ações: 5 dicas para receber
Acordo entre Gol (GOLL4) e Avianca
Em maio de 2022, foi anunciada a criação da holding Grupo Abra. Segundo o acordo, Gol e Avianca passaram a ser controladas pelo mesmo grupo, porém mantendo operações independentes. No comunicado, as empresas afirmaram que “se beneficiariam de maior eficiência e investimentos feitos pelo mesmo grupo controlador”.
Com frota de mais de 110 aeronaves, a Avianca é líder na Colômbia, Equador e América Central, e opera 130 rotas na América Latina. O fundador da Gol, Constantino de Oliveira Junior, é o CEO do novo grupo.
De acordo com o comunicado, o Abra Group Limited é uma empresa de capital fechado incorporada no Reino Unido. Com o controle da Gol e da Avianca, o grupo passou a deter participações minoritárias nas operações da Viva (na Colômbia e Peru) e na Sky Airline (Chile). O anúncio ainda reporta que “alguns investidores financeiros se comprometeram a investir até US$350 milhões em ações do Grupo Abra após o fechamento da transação.”
Depois de acumular uma dívida bilionária, a Avianca Brasil teve falência decretada em 2020. A companhia detinha a marca da Oceanair, mas não fazia parte da Avianca Holdings S/A, grupo com sede na Colômbia.
No mesmo ano, a Avianca Holgins entrou em recuperação judicial nos Estados Unidos. No entanto, a aprovação de seu plano de recuperação, no final de 2021, evitou um processo de falência.
Análise da Terra Investimentos
Indiscutivelmente, as companhias aéreas foram as empresas mais impactadas negativamente pelos eventos que assolaram a economia nesses últimos. Nesse sentido, a pandemia foi o grande marco, que levou diversos governos a fecharem seus aeroportos e/ou impor uma série de restrições aos passageiros, com o objetivo de evitar uma maior proliferação do vírus.
“Dessa forma, a demanda por transporte aéreo reduziu significativamente, e as empresas se viram diante de grandes prejuízos – com exceção das cargueiras”, observa Luis Novaes, analista da Terra Investimentos.
Logo após a reabertura das principais economias, estourou a guerra entre Rússia e Ucrânia. Por não concordar com a motivação da Rússia pelo início do conflito, diversos países aplicaram sanções aos seus hidrocarbonetos, gerando uma redução expressiva na oferta. Como efeito, os preços subiram, não só do petróleo e seus derivados, mas de muitos outros bens da economia, tendo em vista a importância dos combustíveis na cadeira produtiva. Para conter esse avanço, as autoridades monetárias tiveram que aumentar juros ao redor do mundo.
“Todos esses fatores foram determinantes para péssimos resultados ao longo dos últimos anos. O último trimestre, em específico, também foi ruim, mas já se pode notar algumas melhorias importantes. As receitas aumentaram em relação às últimas divulgações, tanto pela recuperação parcial da demanda quanto pelas tarifas mais caras”, avalia Novaes.
Por outro lado, os custos com combustíveis seguem pressionando os resultados operacionais. Isso porque o preço ainda alto do petróleo no mercado internacional é refletido na divulgação, contando também com o impacto da variação da cotação do real ante o dólar. Apesar disso, os custos além dos combustíveis tiveram uma significativa diminuição. Por fim, o resultado foi positivo quando comparado aos últimos trimestres, em que a queima de caixa foi expressiva para cobrir os prejuízos bilionários.
Perspectivas
No último trimestre, notou-se que a Gol tentou repassar seus altos custos para o consumidor, na expectativa de atingir os resultados positivos mesmo com a situação adversa. Teria seria muito positivo para a empresa conseguir esse feito, pois a perspectiva ainda permanece negativa para a empresa no próximo ano.
“Apesar de muitas de o segmento de viagens corporativas estar em expansão, o turismo segue em grande defasagem aos volumes pré-pandêmicos. Além disso, os indícios é de que a demanda por transporte aéreo não deve crescer significativamente nos próximos trimestres”, alerta Novaes.
Por sua vez, a Gol mantem seu processo de renovação de frota com objetivo de atingir um menor custo por passageiro, tanto pela maior capacidade das aeronaves quanto pela melhor eficiência de combustível dessas. Porém, não há sinais de que o preço do petróleo recue para um patamar bom para a empresa, já que a guerra na Europa e suas implicações não estão perto de um fim. Outro ponto de observação é a reabertura da China, que pode aumentar ainda mais a demanda pelo petróleo.
Por fim, Novaes destaca ainda os impactos da alta de juros no Hemisfério Norte. Isso porque a maioria das aeronaves são arrendadas por empresas do exterior e o aumento de juros nos EUA e Europa tornariam esses empréstimos mais caros.
Pontos fortes da Gol (GOLL4)
- – A demanda por transporte corporativo (forte da empresa) está aumentando.
- – A Gol é uma das maiores companhias aéreas, setor com fortes barreiras de entrada.
- – Sua frota é padronizada, o que contribui para a diminuição dos custos.
- – Recentemente, o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) zerou as alíquotas do PIS e Cofins para as companhias aéreas. Isso deve trazer alívio ao segmento.
Pontos Fracos da Gol (GOLL4)
- – O resultado das empresas aéreas é fortemente exposto às flutuações do câmbio e do preço dos combustíveis.
- – A infraestrutura inadequada e insuficiente dos aeroportos brasileiros é um dos empecilhos da operação.
- – Os prejuízos sucessivos pressionam o caixa da empresa.