Em janeiro de 2023, o Tesouro Direto passou a disponibilizar mais um título ao investidor pessoa física: o Tesouro RendA+, voltado principalmente ao planejamento da aposentadoria.
Na prática, trata-se de uma NTN-B série 1 (Nota do Tesouro Nacional), pois o seu rendimento é atrelado ao IPCA, o índice da inflação oficial do Brasil, acrescido de uma taxa fixa, hoje na casa dos 6% ao ano. De acordo com especialistas, a avaliação geral do novo investimento é mais positiva do que negativa. No entanto, o título possui algumas limitações que devem ser levadas em consideração na hora de adquiri-lo.
Se você já está formando reservas para o futuro, ou simplesmente busca novas formas de diversificação, confira a seguir os principais aspectos do Tesouro RendA+.
Como funciona o Tesouro RendA+?
A exemplo de outros tipos de Tesouro Direto, o Tesouro RendA+ é bastante fácil de entender, simular e acompanhar. Nesse sentido, o investidor pode adquirir o título diretamente no Portal do Investidor, sem a necessidade de nenhuma instituição financeira intermediária. Além disso, o valor mínimo para aplicação é de R$ 30, o que contribui para que o investimento se torne bastante popular.
Da mesma forma que ocorre na previdência privada, a ideia do novo investimento é proporcionar a formação de reservas. Ou seja, o objetivo de quem adquire o título é receber um benefício mensal no futuro, como no caso do PGBL ou VGBL.
Inicialmente, o título oferecerá oito datas de conversão disponíveis, ou seja, momento em que se começa a receber o benefício acumulado: 2030, 2035, 2040, 2045, 2050, 2055, 2060 e 2065. Em relação ao resgate, o investidor receberá os recursos em 240 parcelas mensais (20 anos), exatamente como uma renda complementar. Essa é uma grande diferença do Tesouro RendA+ em relação a outros do Tesouro Direto, cujo resgate é feito de uma vez só ou prevê pagamentos de juros semestrais.
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Custos
Assim como acontece com outros títulos públicos, o Tesouro RendA+ possui taxa de custódia cobrada pela B3. No entanto, ela não incidirá se o investidor esperar até o vencimento para receber o benefício, e se o rendimento mensal não ultrapassar seis salários mínimos. Sobre o valor que exceder a esse limite, será cobrada taxa de 0,1%.
A cobrança também recai sobre a venda antecipada do título, de forma decrescente. Nesse sentido, o percentual é de 0,5% sobre o montante do resgate para até 10 anos de permanência. Já de 10 a 20 anos, a taxa reduz para 0,2%, e acima de 20 anos até o vencimento, o percentual é de 0,1%.
O que pensam especialistas sobre o Tesouro RendA+
Quando o título foi lançado, a Folha ouviu especialistas sobre prós e contras do RendA+. A seguir, confira algumas opiniões a respeito do título público para aposentadoria.
Vantagens
Além da segurança de investir no Tesouro Direto, o custo é um dos principais pontos positivos apontados de forma geral. Para Marcia Dessen, planejadora financeira certificada, essa é uma das principais vantagens do RendA+ em comparação a produtos similares. Isso porque algumas seguradoras cobram taxa de administração entre 1% e 2% ao ano, o que sai caro ao longo dos anos, principalmente para pequenos valores investidos
“Grandes investidores até conseguem taxas de administração de 0,6% ou 0,7%. Já o Tesouro RendA+ é 0,1% ou nada (para quem levar o investimento até o final)”, observa.
Outro ponto positivo destacado pela planejadora é a incidência do Imposto de Renda no novo título, sujeito à mesma tributação dos investimentos em renda fixa. Nesse sentido, ela argumenta que a taxa de administração dos planos de previdência privada incide sobre o capital mais rendimentos. Como a taxa do RendA+ é mais baixa, o produto acaba compensando no final.
“No Tesouro RendA+, o investidor vai pagar 5% a mais de Imposto de Renda, que não incide sobre o total acumulado, mas apenas sobre os rendimentos. Por isso, o custo de investir é menor”, explica.
Desvantagens
Por outro lado, a falta de flexibilidade nos prazos de resgate é um dos aspectos negativos destacados quanto ao investimento. Segundo Reinaldo Domingos, presidente da Abefin (Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira), existe um “gesso desnecessário” em relação a isso.
“Os 20 anos tiram um pouco a característica da previdência contínua. Acho isso muito ruim, porque desconsidera a possibilidade de uma vida mais longeva. Tinha que ser flexível”, disse à Folha.
Sobre esse ponto, Rodrigo Correa, estrategista de investimentos da corretora BRA BS complementa que isso pode vir a ser um problema no futuro, frente ao aumento da expectativa de vida dos brasileiros. “Aquele dinheiro extra que a pessoa começou a receber com 60 anos, por exemplo, vai terminar aos 80”, observa.
Flávio Humberto Pretti, planejador financeiro pela Planejar também concorda com a crítica. Segundo ele, dificilmente aconselharia a um cliente um produto que não oferecesse renda vitalícia no planejamento da aposentadoria.
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Outra desvantagem na opinião de especialistas diz respeito à sucessão patrimonial, pois no Tesouro RendA+, o investidor não pode definir beneficiários, como acontece nos planos de previdência. Isso significa que, no caso de um inventário, a sua conta fica bloqueada, e os recursos só poderão ser transferidos aos novos titulares depois do término do processo.