Quem já investe em ações, ou ao menos conhece um pouco sobre esse mercado, sabe que escolher bem os títulos é fundamental para a rentabilidade da carteira. A princípio, isso pode parecer óbvio; mas nem sempre comprar ações de uma boa empresa traz os resultados esperados. É nessa hora que entra o valuation, que considera diferentes aspectos para determinar o valor justo de um ativo.
Essa ferramenta pode ser utilizada tanto pelos gestores quanto pelos investidores de uma empresa. Neste conteúdo, explicaremos o que é e como você pode utilizar o valuation na análise dos seus investimentos. Portanto, se você deseja mais informações para aperfeiçoar a gestão do seu patrimônio, continue a leitura a seguir!
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O que é valuation?
Na tradução literal, a palavra significa “avaliação” ou “valoração”. Trata-se de um conjunto de técnicas que auxiliam na determinação do preço justo de ativos, que podem ser ações de uma empresa ou outro tipo de investimento.
Essa ferramenta utiliza modelos quantitativos e também subjetivos para a avaliação. Isso porque busca relacionar o valor do ativo a todos os fatores que possam exercer alguma influência sobre ele, sejam indicadores financeiros, estilo de gestão ou aspectos macroeconômicos, por exemplo. Ao estabelecer essa relação, consegue apontar o quanto o ativo poderá trazer de retorno ao investidor.
Mas atenção: há dois pontos importantes que precisam ser considerados por quem utiliza essa metodologia. O primeiro deles é que o valuation é sempre uma estimativa, pois os resultados da empresa podem não corresponder às projeções. O segundo é que é possível encontrar resultados diferentes para um mesmo ativo dependendo da metodologia que se utiliza para a sua avaliação, conforme veremos mais adiante.
Para que serve o valuation?
Neste conteúdo, nosso objetivo é falarmos sobre o valuation aplicado às ações de uma empresa. Porém, pode-se utilizar essa ferramenta em diversas situações que não envolvam necessariamente investimentos.
Por exemplo, em uma sucessão patrimonial, muitas vezes pode haver algum litígio que atrase o processo. Nesse caso, o valuation pode dar transparência aos envolvidos, definindo valores para que a divisão entre os herdeiros seja justa. Dessa forma, os trâmites legais acabam ganhando mais velocidade.
Outra ocasião é quando se deseja colocar uma empresa à venda, ou quando algum participante decide se retirar da sociedade. Para anunciar o negócio a possíveis interessados, é preciso antes definir um valor para o mesmo.
Seja qual for a situação, o propósito de um valuation sempre é chegar o mais perto possível do preço justo de um ativo.
Quais os tipos de valuation?
Existem diferentes metodologias para se determinar o valor de uma empresa. A seguir, veremos algumas das mais conhecidas e utilizadas por analistas e investidores.
Fluxo de Caixa Descontado (FCD)
Essa é uma das formas mais completas de valuation, não só de empresas mas de projetos de forma geral. Basicamente, o FCD projeta os resultados de uma empresa para estimar o quanto ela poderá valer no futuro. Com essa projeção, pode-se chegar ao valor intrínseco do negócio ou do projeto em questão.
Essa metodologia traz o fluxo de caixa futuro a valor presente utilizando uma taxa de desconto. Por sua vez, essa taxa espelha o custo do capital envolvido e os riscos inerentes ao investimento.
Para calcular p FCD, é preciso antes encontrar três elementos básicos:
- – Fluxo de caixa projetado: considera todo o faturamento e gastos em determinado período. Essa projeção é bastante útil no caso de uma empresa que, por exemplo, precise financiar um novo projeto e pensa em levantar recursos junto a investidores. Nessa situação, o fluxo de caixa projetado dará uma ideia do impacto do projeto nos resultados futuros da empresa.
- – Taxa de desconto: para calcular essa taxa, a empresa considera premissas como indicadores financeiros, risco do negócio, entre outras.
- – Valor residual: na contabilidade, o valor residual representa quanto vale um bem depois do término de sua vida útil, ou seja, após sua depreciação completa.
Para muitos analistas, o FCD é a metodologia mais completa para chegar ao valuation. Isso porque ele permite avaliar o caixa da empresa no longo prazo, o que não acontece com as formas que veremos a seguir. É importante entender que, quanto maior o prazo considerado pelas projeções, menos precisas elas tendem a ser. Por isso, normalmente se utiliza um intervalo de tempo de cinco a dez anos para o valuation.
Múltiplos de mercado
Outra metodologia bastante conhecida é a dos múltiplos de mercado, que busca entender se uma ação está cara ou barata. Na prática, essa técnica se baseia na comparação de indicadores da análise fundamentalista, cujos mais utilizados são os seguintes:
Preço/Lucro (P/L)
O P/L mostra a relação entre o preço atual da ação e o seu lucro acumulado nos últimos 12 meses. Assim, temos a seguinte fórmula:
Preço atual da ação / lucro por ação
Em outras palavras, o P/L demonstra o quanto o mercado está disposto a pagar pelo lucro da empresa em determinado momento. Essa relação é muito importante, pois a análise das variáveis separadamente (preço e lucro) é insuficiente para mostrar se o valor da ação está atraente.
Isso porque o fato de uma empresa ter lucro não significa que, necessariamente, as suas ações irão se valorizar. Por outro lado, pode ser que, entre uma ação mais cara e outra mais barata, a primeira tenha fundamentos melhores. É por isso que utilizando a fórmula P/V, dá para ter uma noção mais clara da demanda que esse título tem junto aos investidores.
Preço/Valor Patrimonial
Assim como o indicador anterior, o P/VPA ajudará o investidor a entender se o momento é bom ou não para comprar determinada ação. A diferença é que, em vez de considerar o lucro por ação, a sua fórmula relaciona o preço da ação ao valor do patrimônio líquido (PL) da companhia.
Resumidamente, podermos interpretar o P/VPA da seguinte forma:
- – P/VPA inferior a 1: a ação está “barata”, pois a empresa está valendo menos do que o seu patrimônio líquido.
- – P/VPA superior a 1: a ação está “cara”, pois a empresa está valendo mais do que o seu patrimônio líquido.
- – P/VPA igual a 1: a empresa está valendo exatamente o seu patrimônio líquido.
EV/EBITDA
EV é a sigla para Enterprise Value (ou “valor da empresa”), e corresponde ao valor que deveria ser desembolsado para adquirir o negócio. Em outras palavras, o EV de uma empresa é o somatório do seu valor de mercado e da sua dívida líquida (caixa – endividamento total).
Assim, chegamos à seguinte fórmula:
EV = valor de mercado + (endividamento total – disponibilidades de caixa)
Para chegar ao valor de mercado, basta multiplicar o preço da ação pelo total de títulos em circulação em determinado período.
EBITDA representa o caixa que a empresa gera somente a partir da sua atividade operacional. Ou seja, o seu cálculo exclui variáveis que não dependem da operação em si, como juros, impostos, depreciação e amortização.
Esse indicador é um dos mais utilizados pela análise fundamentalista na avaliação de empresas. Clique aqui, e saiba mais sobre ele.
Dividend Yield (DY)
O dividend yield (DY) mostra qual o retorno de uma ação em relação ao seu dividendo. Nesse sentido, ele representa a relação entre os proventos distribuídos por uma ação o preço atual do titulo na bolsa.
Esse indicador é expresso em percentual, e a sua fórmula é a seguinte:
DY = (dividendos pagos no período / preço da ação) x 100
Lembrando que podemos usar o DY também para avaliar os dividendos de fundos imobiliários (FIIs)
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Valor patrimonial
Essa é a forma de valuation mais fácil e direta, pois aqui a avaliação da empresa é feita com base no seu patrimônio.
Essa metodologia depende totalmente das demonstrações contábeis da empresa, pois é lá que obteremos os valores do ativo, passivo e patrimônio líquido. Por isso, ela só será confiável se a contabilidade estiver em dia e for bem organizada.
Uma das limitações do valuation pelo valor patrimonial é não considerar ativos intangíveis no seu cálculo,. Logo, se a empresa tiver valores expressivos nesse grupo (como marcas e patentes, por exemplo), isso distorcerá a análise e penalizará a avaliação.
Valor de liquidação
Essa metodologia é bem semelhante à do valor patrimonial, pois tem como base o balanço patrimonial da empresa. No entanto, normalmente utiliza-se o valor de liquidação quando a empresa está encerrando suas atividades, somente para levantar o seu patrimônio total.
A importância do valuation na análise de investimentos
Além de ser uma excelente ferramenta de gestão, o valuation é muito útil para ajudar a reconhecer as boas oportunidades do mercado. Além disso, possibilita ao investidor entender os riscos e auxilia a evitar que se adquira um ativo que esteja demasiadamente caro.
Em outras palavras, ao fazer uma avaliação correta, é pouco provável que se caia em ciladas, pagando preços altos em momentos de especulação no mercado. Por isso, a técnica é amplamente utilizada por investidores em todo o mundo, principalmente por quem visa o longo prazo.