Embora os saques da velha caderneta venham superando os depósitos nos últimos tempos, ela ainda é a aplicação preferida da maioria dos brasileiros. Porém, nem todo mundo sabe como funciona o rendimento da poupança, e se ainda vale a pena manter dinheiro nessa forma tão tradicional de investir.
Pela simplicidade e segurança, a poupança costuma ser a porta de entrada para quem está começando a investir. Além disso, ela foi a única opção de aplicação durante muito tempo, numa época em que outros produtos financeiros não estavam ao alcance da maioria das pessoas. Porém, o seu rendimento deixou a desejar em alguns anos, inclusive perdendo para a inflação, conforme veremos mais adiante.
Outro ponto importante é que, mesmo que a poupança tenha liquidez diária, precisamos observar as datas de saque para não perdermos o rendimento do mês. Esse também acaba sendo um problema para quem não conhece bem o seu funcionamento.
Para entender melhor esses e outros aspectos sobre o investimento, e conhecer alternativas mais rentáveis e igualmente seguras, continue a leitura a seguir.
Qual é o rendimento da poupança?
A rentabilidade da poupança acompanha a evolução da taxa Selic. Porém, o cálculo dos rendimentos considera dois períodos distintos: um antes e um depois de 4 de maio de 2012.
Para as aplicações feitas antes dessa data, o rendimento da poupança é de 0,5% ao ano acrescido da TR (Taxa Referencial). Já para os depósitos feitos a partir de 4 de maio de 2012, o rendimento da poupança é o seguinte:
- – 70% da Selic + TR (quando a Selic estiver abaixo de 8,5% ao ano);
- – 0,5% ao mês + TR (quando a Selic estiver acima de 8,5% ao ano).
Aqui, cabe uma breve explicação sobre o que é a TR, taxa pouco conhecida principalmente pelo público mais jovem.
Durante alguns anos, a TR foi um importante referencial de juros de algumas aplicações financeiras e financiamentos imobiliários. Com o passar do tempo, foi perdendo a relevância, chegando inclusive a ficar zerada de 2018 a 2020. De lá para cá, para se ter uma ideia, ela ficou abaixo de 2% ao ano, tendo encerrado 2023 em 1,77%.
Veja na tabela abaixo como foi o rendimento da poupança no ano de 2023:
Mês | Rendimento | Rendimento acumulado 2023 |
Janeiro | 0,71% | 0,71% |
Fevereiro | 0,58% | 1,29% |
Março | 0,74% | 2,04% |
Abril | 0,58% | 2,64% |
Maio | 0,71% | 3,37% |
Junho | 0,68% | 4,07% |
Julho | 0,66% | 4,76% |
Agosto | 0,72% | 5,51% |
Setembro | 0,61% | 6,16% |
Outubro | 0,60% | 6,80% |
Novembro | 0,58% | 7,42% |
Dezembro | 0,57% | 8,03% |
Já em 2024, a poupança rendeu até o momento:
Mês | Rendimento | Rendimento acumulado 2024 |
Janeiro | 0,58 | 0,58 |
Fevereiro | 0,50 | 1,09 |
Março | 0,53 | 1,63 |
Abril | 0,60 | 2,25 |
Quais as vantagens e desvantagens da poupança?
A poupança é uma aplicação muito simples e acessível, pois com qualquer valor já se pode começar a investir. E não importa em que banco o cliente abra uma caderneta, pois o rendimento será sempre o mesmo, o que também facilita a opção pela modalidade.
Outros pontos favoráveis são a isenção de Imposto de Renda sobre os rendimentos e a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o que torna a aplicação uma das mais seguras do mercado.
Por outro lado, a principal desvantagem da poupança é o seu rendimento, que há anos perde para outros tipos de renda fixa igualmente seguros. Além disso, é preciso ter cuidado com a liquidez, pois um saque no momento errado pode colocar a perder todo o ganho do mês, como veremos na sequência.
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Rendimento real da poupança
Quando falamos em rendimento real de um investimento, estamos nos referindo ao que ele remunerou acima da inflação. Nesse caso, precisamos subtrair da taxa nominal a inflação do período, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
E aí é que está o problema da rentabilidade da poupança, quando comparamos os seus rendimentos à inflação em alguns anos. De 2015 para cá, quem tinha a aplicação perdeu para a inflação em quatro anos, conforme podemos observar no histórico abaixo:
Ano | Rentabilidade nominal | Inflação | Rentabilidade real |
2023 | 8,03% | 4,62% | 3,25% |
2022 | 7,90% | 5,78% | 2,08% |
2021 | 2,98% | 10,06% | -6,43% |
2020 | 2,11% | 4,51% | -2,29% |
2019 | 4,26% | 4,30% | 0,04% |
2018 | 4,62% | 3,74% | 0,84% |
2017 | 6,61% | 2,94% | 3,53% |
2016 | 8,30% | 6,29% | 1,89% |
2015 | 8,07% | 10,67% | -2,34% |
Liquidez da poupança
Muitas pessoas utilizam a modalidade para a reserva de emergência, pois a aplicação possui liquidez diária, ou seja, o investidor pode fazer o resgate a qualquer momento. No entanto, essa aplicação possui uma peculiaridade, que é o “aniversário da poupança”. E é justamente aí que está o perigo de perder o rendimento do mês, ou parte dele.
Nos fundos de investimento e em outros títulos de renda fixa (como um CDB, por exemplo), a rentabilidade é creditada todos os dias para o investidor. No caso da da poupança, isso só acontece no aniversário do depósito.
Digamos que você tenha uma poupança e costuma fazer aportes mensais sempre no dia 10 de cada mês. Se, em algum momento, você fizer um resgate no dia 9, perderá todo o rendimento correspondente ao mês anterior. É por isso que se deve observar com cuidado a liquidez da poupança. Teoricamente, você pode resgatar a aplicação sempre que quiser, mas se não prestar atenção nas datas de aniversário (uma mesma poupança pode ter vários aniversários), correrá o risco de sacrificar a sua rentabilidade.
Investimentos mais rentáveis do que a poupança
Podemos listar aqui diversos investimentos que pagam mais do que a poupança. Para se ter uma ideia, o CDI acumulado fechou em 13,04% em 2023 e 12,39% em 2022 – os valores estão disponíveis na calculadora do cidadão do Banco Central. Por outro lado, a poupança pagou 8,03% em 2023 e 7,90% em 2022, conforme vimos anteriormente.
Entre as opções mais conservadoras, destacamos as seguintes alternativas à poupança:
Tesouro Direto
O Tesouro Direto é o investimento mais seguro do mercado, pois o emitente dos títulos é o próprio governo federal.
No programa do Tesouro, você encontra títulos para todas as estratégias de investimento. Por exemplo, se o seu foco é a reserva de emergência, pode contar com o Tesouro Selic para esse fim. Já se pensa em investir para o longo prazo, pode contar com títulos prefixados ou indexados ao IPCA, que pagam juros semestrais ou no vencimento da aplicação.
Ou ainda, se o objetivo for receber uma renda futura, o Tesouro RendA+ e Educa+ oferecem essa possibilidade.
A maioria das corretoras não cobra taxa de corretagem para as aplicações no Tesouro. Para alguns títulos, como o Tesouro Selic, RendA+ e Educa+, a bolsa isenta ou reduz a taxa de custódia sob determinadas condições.
E é muito simples investir no Tesouro Direto. No link abaixo, nos explicamos o passo a passo:
Confira o passo a passo para investir no Tesouro Direto
CDB e RDB
O CDB (Certificado de Depósito Bancário) é um dos títulos de renda fixa mais versáteis do mercado, podendo compor a reserva de emergência (no caso dos pós-fixados) e a carteira de longo prazo. Podemos encontrar uma grande gama de emitentes e condições diferenciadas de remuneração para cada título.
Já o RDB (recibo de depósito bancário) funciona praticamente como um CDB de longo prazo (não costuma ter liquidez antes do vencimento), com a diferença de que não pode ser negociado no mercado secundário. Além disso, as instituições financeiras emitem bem menos RDBs do que CDBs, e isso faz com que, normalmente, ofereçam remunerações maiores aos recibos de depósitos bancários.
Lembrando que ambos possuem a proteção do FGC e, portanto, também estão entre os investimentos mais seguros do mercado.
LCI e LCA
As letras de crédito imobiliário e do agronegócio (LCIs e LCAs) também são emitidas por instituições financeiras e garantidas pelo FGC. Nesse caso, a diferença para um CDB ou RDB é que os recursos que captam se destinam ao financiamento das carteiras imobiliárias e do agronegócio das instituições emissoras.
Por esse motivo, elas possuem a vantagem fiscal de isenção de IR sobre os rendimentos, sendo esse um importante diferencial de rentabilidade. Mas atenção: é preciso respeitar o prazo mínimo de resgate de 9 meses para uma LCA, e de 12 meses para uma LCI. Logo, não são indicadas para quem precisa de liquidez imediata.
Fundo de Renda Fixa
Os fundos de renda fixa devem investir, no mínimo, 80% do patrimônio em títulos atrelados à Selic ou CDI, índices de inflação, ou todos esses indicadores ao mesmo tempo. De acordo com a estratégia, os 20% restantes podem ser alocados em ativos de maior risco, e isso é importante entender no regulamento do fundo antes de adquirir as cotas.
Há fundos de renda fixa que oferecem liquidez diária, e, portanto, podem compor a reserva de emergência. O investidor só precisa avaliar se as taxas cobradas compensam a rentabilidade, lembrando que ainda há o come-cotas nesses fundos.